domingo, 8 de agosto de 2010

Cashback




Odeio stand-up! É um tipo de comédia em que um ator se veste de pessoa normal e finge ter um senso crítico aguçado e lança diversas "verdades" de forma pedante para a plateia. Suas ideias são superficiais e são atiradas no receptor de forma incessante. Não há espaço para a contestação ou reflexão. Stand-up se aproxima do pseudo-cult a partir do momento em que faz análises superficiais acreditando ter pleno domínio do assunto. Cashback (Idem, Inglaterra, 2006 - 1 h 42 min) é apontado por muitos como despretensioso, mas há sim um caráter stand-up nele, algo (bastante) pseudo-cult. Ele quis ser um filme inteligente, portanto não é despretensioso.
Ben (Sean Biggerstaff) é estudante de artes que entra em crise emocional após o término do namoro. Arruma um emprego num supermercado. Seus colegas de trabalho são os tipos mais esquisitos, porém divertidos. Ele é artista, portanto tem um olhar particular sobre as coisas. Tem o poder de controlar o tempo. Retarda-o ou mesmo o congela. Faz isso para observar melhor. Seus desenhos são reflexo disso - retratos fieis da realidade, com todos os detalhes.
A trilha sonora é óbvia e normal. Reproduz exatamente aquilo que estamos vendo. Tem seus momentos criativos quando insere alguma música erudita muito famosa em cenas parecidas, como fazia Kubrick. As cenas são quando suas duas namoradas estão brigando com ele e, para fugir, diminui a velocidade do tempo. As boas ideias do filme, centradas no olhar que um artista tem do mundo, são desperdiçadas com a narração em off do personagem. As imagens ficam rígidas e quase morrem com o incessante texto falado de forma apressada (stand-up) pelo Ben. Ele descreve até a ação da cena, quase lendo o roteiro.
É mérito na edição do filme a transicão do tempo real para o tempo de um flash back. Ela é feita dentro do mesmo quadro. É sofisticado. Mas os flash back são exagerados. Temos vários minutos do filme destinado à biografia do protagonista. Uma série de informações que não tem utilidade no futuro da narrativa.
Alguns personagens são estereótipos. Por ser uma comédia romântica, há o risco de cair em vários jargões. Ben é sensível, enxerga as mulheres de forma peculiar. Para se contrapor, trazem o personagem mais antigo da comédia romântica: o amigo sem noção, tarado, bobão e conselheiro amoroso desastrado. Muitos estereótipo estão aí para dar o tom da comédia, mas acabam, várias vezes, caindo no pastelão. Mas há momentos muito engraçados também. A cena do jogo de futebol é impagável.
Cashback é aquele filme que você pega na prateleira de filmes bons da locadora. Chega em casa e: surpresa.

Um comentário:

  1. hahahaha
    engraçado, mesmo com a sua crítica destruidora, me deu vontade de ver o filme!
    hehehehe
    e o blog ta lindo, mas com a maior pinta estadunidense

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