domingo, 9 de maio de 2010

Casablanca


Como prometido, aqui está a crítica a Casablanca (Casablanca, EUA, 1942 - 1 h 43 min), de onde tirei o título do blog. O mais memorável filme de Michael Curtis (Capitão Blood), Casablanca não é lembrado apenas por contribuições à linguagem cinematográfica, pois não o característica mais forte, mas sim pela sutileza no tratamento do tema, que, por ora trivial, é puramente verdadeiro.
Durante a Segunda Guerra, os que fugiam da Europa, cada vez mais nazista, para os EUA tinham que passar por Casablanca, cidade marroquina - última escala à América. Lá está o bar Rick's, cujo dono é o Richard Blane (Humphrey Bogart). O estabelecimento é frequentado por todo tipo de gente - desde nazista à franceses (que tiveram seu orgulho abalado pela invasão nazista durante a Segunda Guerra). Rick's, portanto, é um espaço onde as coisas podem dar trégua e, quando isso não acontece, Richard não faz nada para impedir, pois como ele mesmo diz, "não me arrisco por ninguém". Sam (Dooley Wilson) é responsável pela música - canta e toca piano brilhantemente. Sam é o único amigo de Richard, sendo seu conselheiro. Richard é o típico anti-herói - cafageste, nem bonito, nem feio e grosseiro (personagem que ganhou muito espaço no Noir, gênero cinematográfico marcante da época). Toda a segurança e arrogância de Richard é questionada quando reaparece em sua vida Ilsa (Ingrid Bergman), um amor do passado. Ilsa está casada com Laszlo (Paul Henreid), mas seu amor por Richard ainda é intenso. Forma-se, assim, o triângulo amoroso.
Bergman encarna Ilsa, nos confundindo entre suas expressões que vão de uma apaixonada que ama muito, as vezes não quer amar e também não sabe se deve. Entre Ilsa e Richard, que tem suas crenças e ideais confundidos ao se reencontrarem, temos o lúcido Sam, que acompanha as coisas do lado de fora, observando de camarote - é o telespectador no filme de terror que tenta dizer à garotinha para não entrar pelo corredor escuro. Nos momentos em que as relações entre Ilsa e Richard são tão abstratas e não é possível Sam dar o melhor conselho, tanto Ilsa quanto Richard não hesitam em pedir a Sam que "toque de novo" "As time goes by", cujos versos "a kiss is just a kiss" e "A sigh is just a sigh"diz muito sobre o sucesso desse filme até hoje. Casablanca não aparenta ter nada sensacional que vemos muitos em outros filmes inesquecíveis. O segredo de Casablanca está em mostrar sonhos verdadeiros das pessoas em momentos de cansaço, nos momentos em que se recomenda ficar calado. Entre uma opressão e outra há o descanso em que a sutileza de "a kiss is just a kiss" ganha importância bem maior.
Fator determinante para o padrão quase blocado de Casablanca é ser um filme de estúdio nos anos 40 em hollywood. Nessa época, a industrialização era tão severa que tudo era realmente um produto, sendo poucos os filmes em que os traços pessoais de um diretor sobressaiam. Em resposta a isso temos o cinema Noir, que era visto pelos americanos apenas como filmes B, mas que para os franceses era o cinema lutando pra sobreviver, tanto que logo nasce a Nouvelle Vague - criticando os filmes de estúdio e valorizando o Noir. É grande mérito de Casablanca ser um filme de estúdio da década de 40 e ser lembrado, isso mostra como o traço de Curtis sobreviveu à industrialização.
Casablanca é responsável também por algumas daquelas frases que todo mundo fala, sem saber de sua origem.  São elas "ainda temos Paris" e "Esse é o início de uma bela amizade". A fotografia também merece créditos - um preto e branco com contrastes acentuados, valorizando a dimensão dos cenários. O vídeo a seguir é mostra algumas cenas de Richard e Ilsa. Está aí "as time goes by".

Um comentário:

  1. Ainda não vi Casablanca, mas morro de vontade de ver. Seu texto me instigou. Abração, cara! Boa semana!
    P.S.: não rolou de ir. Dia das mães. Fazer o que, né?

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