quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O grupo Baader Meinhof




A Alemanha pós-Segunda Guerra se vê com situação econômica e política completamente instáveis. Na década de 1960, quando entram em quadro a Guerra do Vietnã, dentre outros, se intensifica neste país tal estado irregular. Isso desperta no povo o surgimento de grupos reacionários, em geral, de guerrilha. A Facção Exército Vermelho (RAF) foi um desses grupos. Fundados em 1970, eram de extrema-esquerda e tinham como objetivo maior combater o imperialismo. Se auto-descreviam como um grupo de guerrilha urbana comunista e anti-imperialista, engajados numa luta armada contra o que definiam como Estado fascista.
O lider da primeira geração da RAF foi Andreas Baader (interpretado no filme por Moritz Bleibtreu). Seu discurso se voltava para a reação. Acreditava que a RAF seria ouvida a medida que fosse "vista". E isso abrange atentandos terroristas.
A jornalista Ulrike Meinhof (Martina Gedeck), famosa pela publicação de textos fortes denunciando regimos políticos no mundo, principalmente na Alemanha, acaba entrando na RAF. Costumava causar barulho apenas com as palavras de seus textos. Baader nao acreditava que o caminho traçado por Ulrike trouxesse os resultados mais eficientes. Já a jornalista, discordava. A entrada de Ulrike permite maior dinâmica na cabeça do grupo. A RAF passava de apenas reacionários para produtores de ideologia. Teoria e prática se misturavam. A RAF ganhava o apelido Baader Meinhof.
O Grupo Baader Meinhof (Der Baader Meinhof Komplex, Alemanha, 2008 - 2 h 30 min) busca situar da maneira mais completa possível a série de eventos que envolveu a RAF. Para isso, em seus 150 minutos, percorre cerca de uma década, inúmeros personagens, várias explosões, manifestos, reuniões, textos verídicos lidos inteiros e ainda aposta na transformação de tudo isso ao longo do tempo. Com as várias possibilidades de interpretação que a obra oferece, justo por elucidar vários caminhos e ser saturada de conteúdo e contextualização histórica, percebe-se a cautela em que tudo foi tratado para o abrandamentos das possíveis polêmicas. Mesmo com todos os esforços, o filme foi recebido com muito barulho, principalmente pelos parentes de vítimas da RAF. Afirmam que a memória foi tão maquiada que muitas vezes se confunde qual ideia final a RAF recebe do filme. O que não é completamente uma mentira.
O filme começa antes da formação do grupo. Em 1967, o Xá do Irã visita Berlim. Grupos estudantis aproveitaram para se manifestarem contra a violação dos direitos humanos que vinham ocorrendo no Irã. A reação dos policias fica fora de controle e acabam agredindo os estudantes. Em um almoço com classe nobre alemã, Ulrike Meinhof aproveita para ler um texto seu recentemente publicado sobre o governo no Irã. As ações paralelas são justapostas na edição. As cenas violentas são fundidas ao texto de Meinhof. São as premissas da formação da RAF.
Na primeira parte do filme, temos a apresentação de todos os personagens chave da primeira geração do grupo. As reuniões libertinas, treinamento inconsequente, discurso liberal, banalização de sexo e violência. O tratamento dos temas direciona para a mitificação, idolatria daqueles indivíduos. São artistas.
As ações do grupo ganham notoriedade por sua dimensão. Explosões. Sequestros. As coisas perdem o controle quando já não sabem de que lado estão. Não era objetivo inicial atacar cidadãos comuns. A falta de planejamento e a impulsividade de Baader levam o grupo a cometer esses deslizes. A repetição exaustiva do que eles propunham faz com que se confundam. Já não sabem o que é liberdade. Lutam por respeito, mas destroem patrimônio público, matam e machucam quem não tem a ver com a situação. No fim do filme há um rastro de sangue e a impressão é que nem os líderes da RAF saberiam explicar a razão dele.
A estrutura pode ser resumida em um primeiro bloco que mostra porque o RAF surgiu e a glamourização dos protagonistas. Um segundo é a saturação de informações - a contextualização. O terceiro ato é quase como um grande epílogo. Ele contradiz o que temos no início. Os ídolos, artistas, superheróis perdem seu brilho, seus superpoderes. Todo glamour anteriormente jogado neles é retirado. Agora eles são fracos, infantis e não tem controle da situação. Os líderes ainda mantém contato na prisão, mas não conseguem se entender nas conversas. A base da instituição que haviam formado é frágil. O grupo finalmente acabar em 1998 já tem seus sintomas indicados no filme, que aborda até meados dos anos 70. A visão final que temos é de ideologias (utópicas) aparentemente corretas que se envenenam entre os atos terroristas. Aqui a RAF perde a razão, diferente do que alguns apontam ver no filme - crendo nele como uma propaganda (positiva) do Grupo Baader Meinhof.

Um comentário:

  1. "a violencia é tao facinante e nossas vidas sao tao normais."

    Acho que à música de renato e o filme caminham juntos. Inquietando os espectadores na leitura das próprias rotinas. Até que ponto a insatisfação pode nos levar?


    ótema resenha, chades!

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