sábado, 25 de setembro de 2010

Impulsividade





Vale mais a empatia que a simpatia. Empático é aquilo com que nos identificamos, onde podemos ver uma extensão de nós mesmos. Personagens empáticos não simpáticos são muito mais valiosos que os agradáveis onde não enxergamos nada de nós. É com os empáticos que um filme submete seu público à cartarse. Impulsividade (Thumbsucker, EUA, 2005 - 1 h 36 min) é recheado de empatia, desde a trilha, as personagens às locações.
Justin Cobb (Lou Taylor Pucci), com seus 17 anos, vive o limbo entre a maturidade e a infância. Isso é metaforizado com o cacoete do garoto de não conseguir parar de chupar o dedo. Seu dentista Perry (Keanu Reeves) aponta a mania de Justin, em primeiro momento, como um substituto para o seio da mãe.
Justin se sente diferente dos que o cercam e, de fato, é um pouco. O ambiente familiar lhe parece instável. Sua mãe (Tilda Swinton) é fascinada por artistas de TV e cinema, mais tarde até trabalhando em uma clínica que recebe esse público. Justin acredita que o fascínio pelos artista é um sinal de ela não estar conformada com a família. O pai de Justin (Vincent D'Onofrio) não é acostumado com a ideia de ser pai e estar envelhecendo, tanto que pede para ser chamado pelos filhos apenas pelo primeiro nome e não de pai.
Justin não consegue se aplicar na escola, tampouco se dá bem com garotas. As coisas mudam quando começa um relacionamento com Rebecca (Kelli Garner) e é diagnosticado (erroneamente) por uma psicóloga como hiperativo. As drogas receitadas a Justin fazem que fique bastante aceso e se torne a estrela nerd da escola, competindo em grupos de debate. Melhor, não são as drogas que fazem isso a Justin, mas ele mesmo ao acreditar nas promessas de melhoras conferidas às drogas pela psicóloga. De tanto insistirem que algo estaria errado com Justin ele acredita que é possível uma melhora, quando nem é preciso mudar.
Os problemas todos que giram em torno de Justin são apenas o ambiente reagindo a ele, que aparentemente não é um ser nativo de onde está. Como o arganismo expulsando um vírus. Justin não cabe em sua família, nem na escola e nem na sua cidade. Ele não tem problemas, patologias mentais, apenas não pertence a onde está. É num segundo momento que o dentista Perry, personagem cômico em que Keanu Reeves se mostra muito mais competente em comédia que em drama, afirma que não há nada de errado com Justin simplesmente por ele chupar dedo, que é algo absolutamente aceitável e normal.
A cidade pequena, a trilha indie (aliás, o filme é indie), protagonista que sofre a transição para a maturidade, o direito juvenil de fazer coisas erradas fazem do filme uma experiência muito agradável. É algo muito puro. Soa como uma memória de bons tempos que vivemos. E essas são de fato as memórias do Justin que afinal sai da cidade. O Justin realizado, se expressando no seu mundo verdadeiro, seria outro filme.
A estrutura totalmente clássica do roteiro também coopera para a pureza do filme. Os personagens tem suas funções muito bem definidas e aparecem nas hora certa para cumprirem seu papel e manterem a história funcionando. O dentista, por exemplo, é o Jedi de Star Wars (exemplo de épico de estrutura clássica). Ele faz o protagonista enxergar aquilo que o bloqueia para que finalmente possa progredir. Nosso herói, Justin, também luta pelo coração de uma princesa e se supera ao conquistar o que almeja. Nada muito novo.
Impulsividade passa por nós como uma brisa agradável, como olhar para um álbum de fotos de nossos melhores tempos. Uma música em tom maior e sem dissonâncias. Justin não é problemático por chupar o dedo e também não encontra resposta definitiva para o porquê de fazer isso. Mas melhor que descobrir o porquê, ele aprende que o truque é viver sem respostas.

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