segunda-feira, 26 de abril de 2010

As melhores coisas do mundo



Falar de um mundo o qual já não fazem parte há anos, torna-se um desafio grande para boa parte dos cineastas (principalmente dos preguiçosos). O que temos visto nos últimos tempos em filmes teen, ou que abordem esse universo, é um resultado quase nunca satisfatário, sendo esses filmes retratos esteriotipados que diferem quase absolutamente do verdadeiro mundo dos jovens. Quando não é isso, vemos os jovens de outras décadas fingindo serem os de hoje. Não é o caso de As melhores coisas do mundo (Brasil, 2010, 1 h 47 min), filme um tanto naturalista, que aborda muito bem os principais arquétipos (e não esteriótipos) dos adolescentes de hoje.
O filme de Laís Bodanzky (Bicho de sete cabeças) é um painel de tudo aquilo que já se sabe sobre o complexo mundo dos adolescentes, com uma boa atualização para questões de como os recursos tecnológicos são revertidos em ferramentas para que eles sejam mais adolescentes (pejorativamente falando). Mano (Francisco Miguez)  exemplifica na trama um dos jovens que acaba tentando "se adaptar" para ser bem visto. Ele é a fim de uma das piriguetes da escola, mas ela fuma e ele odeia cigarro - mas ele acaba tentando fumar. Seus pais (Denise Fraga e Zé Carlos Machado) estão se separando, pois o chefe da casa resolveu ser feliz e assumir seu romance com seu orientando de mestrado. O irmão (Fiuk) é metido a poeta incompreendido. Podemos ver que Mano não está tão bem.
O protagonista tem aulas de violão com Marcelo (Paulo[inho] Vilhena). Para chegar ao ap de seu professor, Mano tem de subir uma longa escadaria, carregando sua bicicleta e violão. Ele tem que escalar a montanha para chegar ao seu mestre. As aulas de violão acontecem em momentos específicos do filme em que Mano está prestes a explodir, então vai ouvir algumas palavras de sabedoria. Seria uma bela metáfora se ele realmente ouvisse coisas sábias. Mas um professor de música falar que "o violão é a alma da guitarra" é intragável! É o mesmo que falar que teatro é a alma do cinema.
A película é permeada de excelentes atuações, minimalistas e naturalistas. A mise-en-scène é meticulosa. A reação dos personagens ao ouvirem outros falando é maestral, sobressaindo atuações como a de Denise Fraga (ótima como a mãe solitária).
Incomoda no filme as pontuais salpicadas de "esse é um filme cujo público alvo são adolescentes" (ao menos são pontuais). Excesso de música pop muitas vezes soa como barulho por não casarem na cena. Quando as músicas casam, o filme até parece videoclip. Alguns padrões estéticos também refletem isso, como acelerar o o tempo do vídeo para que tudo passe corrido. A temática é muito bem trabalhada com um cinema rigoroso, mas há momentos que persoagens parecem que vão virar para a câmera e passar sua lei de moral. Essa última situação é gritante próximo ao final do filme, quando o namorado do pai do Mano explica a Carol (Gabriela Rocha - a menina que anda com os meninos) e a Mano que eles podem aplicar as ideias deles de igualdade através de teatro, dança, blah e blah (lembrando que tudo isso que falei nesse parágrafo é perdoável se analisarmos esse filme como um filme de camadas. A camada comercial é necessária! Ninguém faz filme para não ser assistido).
Outra grande falha (essa não é perdoável), é na narrativa. As situações do filme se repetem disfarçadamente para personagens diferentes, mas se repetem. Muitos na escola/inferno, principal lócus do filme, são amedrontados pelo que pode ser postado no blog super atualizado da  paparazi oficial do colégio (personagem brilhante). Chegando naquele espaço temporal técnico em que deve entrar o plot para o final, por terem perdido o fio condutor da narrativa, usam um Deus ex machina, jogando bosta no ventilador. O namorado do pai do mano (não lembro o nome dele e nem achei o nome do ator) é o único que lê o blog do Pedro (irmão de mano). O garoto pseudo poeta posta, após uma briga com a namorada, um texto que sugere que vá se suicidar. É o momento em que o personagem que não acontecia, sabíamos que existia, resolve fazer seu papel tapa-buraco. Ele quem aciona todos para salvar Pedro de si mesmo, nesse tal suicídio repentino.
Sobre Pedro - o que é esse personagem? Confesso que não digeri. Ou ele é um adolescente absolutamente confuso consigo próprio, não se entende e não se faz entender. Digo isso pois ele é envolvido com os grupos artísticos (teatro, poesia, música), onde se prega a tolerância e, quando ele tem seu pai como homossexual, não aceita de forma alguma. Então, ou ele é o que eu já disse (não se entende e não se faz entender), é um adolescente que tá bem preocupado com a reputação ou, simplesmente, um personagem mal construído. Agora prefiro não tomar partido.
Outro momento do filme que ficou confuso é uma suposta briga de Pedro e sua namorada. Ele fala algo como "agora que fizemos o filho,  vamos assumir", quando são surpreendidos por Mano, fingem que estavam ensaiando a peça da escola. No fingimento, fazem metáforas até que inteligente que inferem, realmente, que a moça está grávida. Isso nunca mais é citado. Talvez seja uma trama que não sobreviveu à edição.
As melhores coisas do mundo é um filme impressionante (acho que fui chato na minha crítica acima). Bodanzky é uma diretora de muito potencial que tem bastante autoria. E, acima de tudo, esse é um marco no mercado audiovisual brasileiro, que cada vez  mais vem investindo nos gêneros cinematográficos.

4 comentários:

  1. Boa crítica ;) Mas afinal, você gostou ou não do filme? hahaha. Pra mim o filme fez o que propôs, antingiu o público adolescente. Mesmo já tendo passado da fase de ensino médio, ainda foi bem divertido achar semelhanças em personagens e acontecimentos. Só não gostei do final, o Fiuk devia morrer! hahaha

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  2. Bacana a crítica! Achei interessante esse ponto de vista sobre o Pedro, pois não havia pensado nessa hipótese. Contudo é até razoável acreditar que ele não simpatizou com a homossexualidade do pai, uma vez que uma das grandes características da adolescência é defender aquilo que está distante de nós e quando o distante se aproxima, percebemos que as coisas podem ser um tanto diferente (soou confuso..srsrs). Por exemplo: em uma das falas de Mano, ele diz que não possuía preconceito mas o pai dele não deveria ser gay. Acredito que a não aceitação de Pedro segue esse caminho.

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  3. eu fikei confusa com aparada da gravidez tb, mas acho que não tem nada a ver já que quando a peça aparece vc vê que é sobre aborto e tals
    (não é isso? eskeci mas tinha a ver). acho que akilo é pra crescer a tensão e surpreeender quando ela sai com outro cara
    vai saber
    "Essa última situação é gritante próximo ao final do filme, quando o namorado do pai do Mano (por isso o divórcio) explica a Carol (Gabriela Rocha - a menina que anda com os meninos) e a Mano que eles podem aplicar as ideias deles de igualdade através de teatro, dança, blah e blah" tb achei essa parte péssima
    super rede globo
    ninguém aguenta
    concordo em tudo contigo
    e a o vilhena é o um péssimo mestre. o mestre verdadeiro era a guitarra

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  4. Crítica bem embasada Maurício, parabéns.
    Ainda não vi o filme, mas fiquei curioso
    por suas palavras.

    Abraço parcero de #greveunb

    Veja tbm
    www.ovolumeunico.blogspot.com

    tem um topico sobre filme la, o penultimo.

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