domingo, 4 de julho de 2010

Braços cruzados, máquinas paradas




Tudo acontece num Brasil ainda virgem de mudanças. Nossa herança de conformismo faz as manifestações populares já tradicionais na Europa ecoarem por aqui séculos tardiamente. A inexperiência é percebida tanto no povo que reivindica melhores condições de trabalho como dos donos de meio de produção, que desconheciam e desacreditavam do potencial de manifestações populares vindas de indivíduos com, supostamente, bem menos bagagem intelectual. Talvez a fórmula para uma manifestação eficiente não esteja em uma biblioteca.
Braços cruzados, máquinas paradas (Idem, Brasil, 1979 - 1 h 16 min) essencialmente nos mostra a genialidade popular. A riqueza da espontaneidade, do nato. O sistema de trabalho vigente era dito como absolutamente alienante. Não se acreditava num espaço para que pessoas organizassem manifestações. Mas, acima das forças que regem o trabalho alienante, o corpo dos operários reage e busca espaço para buscar o que lhe é de direito. Em um depoimento emocionante, uma operária declara não haver tempo para ir ao banheiro. As máquinas não esperam. Não há tempo nem para o banheiro, mas a greve é iminente.
Focado na ideologia, no seu posicionamento nitidamente direcionado na defesa dos operários, o filme se centra na saturação dos depoimentos de forma verborrágica, não dando tanto espaço para a poesia, a reflexão. O que não necessariamente é um defeito. É uma escolha – a princípio, foi bem sucedida. O conceito do filme é muito bem estabelecido e funciona bem. Câmera enquadrando personagens em primeiro plano ora ou outra se movimenta para as laterais revelando o muro da fábrica, as faixas de greve, ou mesmo expressões marcantes dos funcionários explorados.
Narrativa clara e coesa, ora ou outra peca com a narração em off costurando aquilo que supostamente não se revela com imagens. Com atos muito bem definitos, acompanhamos o filme num primeiro momento que antecede a greve, quando os funcionários relatam as injúrias do ambiente de trabalho; um segundo ato mostra a articulação subversiva entre os funcionários e o terceiro se centra na greve em si e na articulação dos líderes sindicais com os representantes da fábrica.
Além da temática e do conteúdo muito valiosos do documentário, os personagens são o espelho de tudo que é debatido. Pessoas que trazem na voz seu sofrimento. Os tropeços no português não os tornam menos inteligentes. Pessoas com domínio daquilo que se poderia denominar “genialidade popular”. Uma esperteza, espontaneidade. Algo que os fez sobreviver ao sistema alienante.
Dentre as diversas reflexões possíveis e profundas que o filme pode trazer, na atual conjuntura (ao menos de Brasília), creio ser a procedência de greves a mais óbvia. É a greve ainda um “direito”, uma primeira alternativa para o proletariado? É a alternativa mais eficiente?

Um comentário:

  1. é triste vc pensar o local do movimento popular hj.
    hj ninguém luta por nada, ninguém mais se junta por uma causa. as pessoas consideram greves um bom momento pra viajar e tirar umas férias
    isso é muito deprimente.
    durante a guerra do iraque, eu colecionava fotos dos pacifistas que saiam no jornal. pessoas de todos os países com placas, protestando nuas em plena neve. eu achava akilo lindo...

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